Lamentavelmente, o crescimento da violência no Rio de Janeiro chegou a índices inaceitáveis. Ultrapassou todos e quaisquer limites. Nos últimos anos, o crime organizado se expandiu e se fortaleceu — incentivado pela decadência das forças de segurança —, estendendo sua atuação para dezenas de regiões do estado. A principal vítima é o cidadão, que perdeu a liberdade de ir e vir, um direito que deveria ser assegurado a toda a população.
A violência se abate sobre os moradores do Rio numa intensidade vertiginosa e tem causado graves impactos no setor de transporte por ônibus urbanos, responsável pela mobilidade de 75% daqueles que utilizam transportes públicos para circular pela capital fluminense.
Somente em 2023, 112 ônibus foram sequestrados e, posteriormente, utilizados como barricadas em áreas dominadas por quadrilhas de milicianos ou traficantes de drogas. Outros 22 foram incendiados em ações criminosas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, com 12 casos concentrados na Baixada Fluminense. Em média, dois mil veículos foram vandalizados no pós-praia e em dias de jogos de futebol. É a comprovação, em números, da ineficiência do estado em sua missão de garantir a segurança dos cidadãos e também daqueles que investem e empreendem no Rio de Janeiro.
As empresas de ônibus que operam na capital fluminense têm feito um grande esforço para melhorar a qualidade da frota e dos serviços prestados à população, que merece andar em veículos mais novos e refrigerados. O acordo firmado com a prefeitura do Rio em maio de 2022 tem proporcionado avanços no setor, como a compra de 700 novos ônibus, que já estão em operação no Rio. Essa recuperação, entretanto, é interrompida quando um ônibus é incendiado ou vandalizado. Para ter ideia do prejuízo, um veículo novo custa cerca de R$ 850 mil — e não há seguro para ônibus urbano. No caso da necessidade de reparos, muitas peças de reposição não têm disponibilidade para entrega imediata, e o conserto demora 30 dias. Ônibus parado na garagem, à espera de reparo, é ônibus a menos para atender os passageiros.
Para além do prejuízo financeiro das empresas, e ainda mais relevantes, são os traumas causados a passageiros e rodoviários pelas ações violentas dos criminosos, com ameaças de armas de fogo e até bombas. Cada dia mais, as empresas têm convivido com pedidos de demissão por parte de motoristas que já não querem circular pelas centenas de áreas controladas pelo crime organizado, com medo de serem vítimas da violência crescente. É a vitória do bandido sobre o cidadão de bem. É um parodoxo.
Em nome dos 2,1 milhões de passageiros que transportamos diariamente e dos nossos 17 mil rodoviários, apelo publicamente para que as autoridades da área de segurança do Estado do Rio de Janeiro se mobilizem com a urgência que a realidade exige no sentido de implementar ações objetivas, recorrentes e capazes de garantir que o ir e vir da população deixe de ser sinônimo de medo.
Não podemos normalizar essa situação.
*João Gouveia Ferrão é diretor-presidente do Rio Ônibus
Fonte: https://oglobo.globo.com/opiniao/artigos/coluna/2023/10/o-medo-anda-de-onibus-no-rio.ghtml
Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo