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Gerações, Tarifas e o direito de ir e vir

“De 20 em 20 anos aparece no mundo uma nova geração. Mas de 40 em 40 é que todas as coisas se repetem.” A música “Gerações”, de Zé Rodrix, foi lançada em 1974 mas parece falar diretamente com o momento que vivemos no transporte público brasileiro.

Há exatos 40 anos, em 1985, foi criada a Lei do Vale-Transporte (Lei nº 7.418/1985). Na época, a tarifa dos ônibus já pesava no bolso do trabalhador, e o poder público, com apoio das empresas, estruturou um mecanismo que reconhecia o transporte como direito de quem trabalha e dever de quem emprega. Foi uma conquista social importante e, por muito tempo, o vale-transporte cumpriu bem esse papel.

Quatro décadas e duas gerações depois, a história se repete. Novamente, a passagem está cara para quem paga e insuficiente para quem opera. De novo, a população mais pobre é quem mais sente. E mais uma vez precisamos repensar o modelo.

Mas agora, o debate é outro, já falamos sobre a Tarifa Zero, uma política que transforma o transporte público em um serviço universal, financiado pela coletividade, assim como a saúde e a educação. Já são 135 cidades no Brasil adotando esse modelo, com impactos positivos na inclusão social, na economia local e na mobilidade urbana.

Muitos perguntam, “mas de onde virão os recursos?” e como a música nos leva a refletir, a resposta pode estar no passado.

O vale-transporte, que muitos consideram em desuso por conta da informalidade e da mudança nas relações de trabalho, pode ser novamente protagonista. O valor já pago mensalmente pelas empresas ao sistema de transporte pode ser redirecionado para fundos municipais de mobilidade, ajudando a financiar o subsídio necessário para tornar essa política sustentável.

Na prática, precisamos reconhecer o que já temos, reorganizar o modelo e garantir o acesso. Se há 40 anos o Brasil criou o vale-transporte porque o ônibus ficou caro demais para o trabalhador formal, agora o desafio é maior: garantir o transporte para todos, inclusive os milhões de brasileiros em ocupações informais, que hoje são os mais penalizados pela exclusão tarifária.

A música está certa: de 40 em 40, tudo se repete. Mas dessa vez estamos propondo o debate para que a lei se repita com mais coragem, mais justiça e mais inovação.

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