Artigo de Jacob Barata Filho
Muita gente reclama, com razão, da impessoalidade das cidades. Os mais velhos lembram com saudade quando, na vizinhança, todos conheciam a freguesia pelo nome. A sociedade moderna valoriza cada vez mais o individualismo, e, no meio urbano, o carro particular é a materialização desta filosofia: o individual x o coletivo.
Em contrapartida, se existe um lugar, entretanto, onde esta lógica é totalmente subvertida este lugar é o ônibus. Dentro do ônibus tem festa de aniversário, ensaio fotográfico de casamento, vaquinha para a aposentadoria do motorista.
Jan Gehl, em Cidades para Pessoas, nos ensina que as cidades devem ser projetadas para quem caminha, convive e vive nelas e não o para os carros. Ele defende que os espaços urbanos devem priorizar a escala humana, promovendo encontros, bem-estar e sustentabilidade. Para isso, um sistema eficiente de transporte público é peça-chave.
O domínio do automóvel nas cidades do século XX resultou em congestionamentos, poluição e espaços urbanos hostis para pedestres e ciclistas. Gehl propõe a inversão desse modelo: devolver as ruas às pessoas por meio de calçadas amplas, ciclovias seguras e áreas de convivência. Mas nada disso funciona sem um transporte coletivo eficiente, acessível e integrado, que reduza a dependência do carro e torne as cidades mais humanas.
Investir em transporte público não é apenas uma questão de mobilidade, mas de qualidade de vida. Cidades que priorizam ônibus rápidos, metrôs bem planejados e redes intermodais não apenas facilitam deslocamentos, mas promovem inclusão social, segurança e sustentabilidade. Quando priorizamos o transporte coletivo, reduzimos emissões de carbono, melhoramos a saúde pública e tornamos os espaços urbanos mais vibrantes e agradáveis.
O futuro das cidades de Gehl passa pela valorização do transporte público. Uma cidade pensada para as pessoas é aquela onde o ônibus, o trem e a bicicleta não são alternativas, mas protagonistas. Se queremos espaços mais democráticos, sustentáveis e acolhedores, investir em transporte coletivo não é uma opção, é uma necessidade.